É um dos motores da economia nacional, mas está há anos a braços com um problema, a falta de mão-de-obra. Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP, defende que a descida do IVA veio ajudar à criação de postos de trabalho mas não chega.
“O setor tem crescido e a mão-de-obra é necessária. Vivemos das nossas pessoas. E os inquéritos que a AHRESP tem feito sobre esta matéria, e as reflexões que tem feito à volta do mercado de trabalho e das qualificações das nossas pessoas, tem nos dito que temos um défice grande de mão-de-obra. Há cerca de um ano e meio já ascendia a cerca de 40 mil pessoas. Voltámos a repetir esse inquérito que, não sendo um dado científico, é uma estimativa, e já superamos essa falta”, afirma Ana Jacinto em entrevista ao Dinheiro Vivo.
Como é que se pode colmatar essa falha? “É difícil. A AHRESP, há cerca de um ano e meio, fez uma grande reflexão sobre esse tema porque já perspetivava-mos que esta situação se iria agravar. Fizemos algumas propostas e estamos a tentar trabalhar em conjunto com quem também tem responsabilidades nestes temas; uma das quais é a formação de muita curta duração. O que pretendemos é que aqueles que ainda estão à procura de emprego sejam reconvertidos para o turismo, porque temos ofertas de trabalho. Esta é uma das propostas;”, sublinha.
Mas há outras: “o programa Regressar que também é um programa que podemos e devemos aproveitar. E depois, eventualmente, mão-de-obra estrangeira, que também tem de vir trabalhar para o setor devidamente legalizada, e formalizada, com as condições todas que têm de ter”, explica a secretária-geral da AHRESP.
Ana Jacinto rejeita que a pouca atração pelo setor passe pelos salários. Ainda assim diz que a Associação já solicitou à Confederação do Turismo de Portugal que fizesse um estudo profundo sobre as remunerações no setor e isso está a ser feito em parceria com uma academia.
No entanto, admite que para atrair profissionais para o setor é preciso mudar estratégias:i “Diria que o setor é um setor penoso. Trabalha 24 horas por dia, 365 dias. Temos os trabalhadores a trabalhar aos sábados, aos domingos, a horas noturnas, e esta nova geração dos millennials gostam de trabalhar mas também de fazer os seus hobbies e de ter tempo para eles. Dizer a um jovem que não pode ir para a praia às cinco da tarde com os amigos porque tem de trabalhar é difícil. E isto é penoso.”
“Temos de ter instrumentos e temos de ter a inteligência de criar organizações de tempos de trabalho que não façam com que os trabalhadores tenham que ficar agarrados a uma empresa o dia todo. Com os horários que temos, o que acontece é que a grande maioria dos trabalhadores tem de entrar de manhã, tem de fazer os almoços, depois faz um intervalo a meio da tarde e depois volta à noite. Mas este intervalo do meio da tarde, quando temos cada vez mais pessoas a viver nas periferias dos centros, não lhes permite fazer nada. Acabam por ficar afetas à empresa quase o dia todo de trabalho”, conclui.
Fonte: Sapo