Em meados da década de 1960, no entanto, esse movimento se inverteu e os brasileiros passaram a deixar o país em busca de melhores oportunidades no exterior. No início dos anos 1980, com a alta do desemprego a inflação a níveis estratosféricos, mais gente saía do país do que entrava.
Nos últimos anos, algumas movimentações foram observadas nos dois sentidos. Com a crise na América Latina, bolivianos e venezuelanos passaram a se refugiar no país. De acordo com um relatório da ONU divulgado em junho deste ano, o Brasil é o sexto maior receptor de pedidos de refúgio por parte de estrangeiros, atrás apenas de Estados Unidos, Peru, Alemanha, França e Turquia. São mais de 150 mil solicitações vindas, principalmente, de cidadãos venezuelanos, haitianos e sírios. Ainda assim, o número de imigrantes vivendo por aqui é considerado baixo. De acordo com a Polícia Federal, são 750 mil – 0,4% da população atual do país ou quatro estrangeiros para cada 1 mil brasileiros. Nos Estados Unidos, por exemplo, essa relação é 123 por 1 mil. A média mundial é de 34 por 1 mil.
Já o número de brasileiros que mora fora do país é um dado controverso, principalmente em função das imigrações ilegais. Segundo o Relatório Internacional de Migração do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da Secretaria das Nações Unidas (Desa), cerca de 1,6 milhão de brasileiros viviam fora do país em 2017. Esse número continua crescendo e já há quem se refira ao movimento, intensificado a partir de 2014, como uma diáspora brasileira. O número divulgado até julho deste ano – 21,8 mil – já era maior do que toda a saída de 2018.
Mas quem são essas pessoas? Segundo uma pesquisa feita pela Nielsen a pedido da TransferWise, empresa de tecnologia especializada em movimentação financeira, a maior parte dos brasileiros que mora fora do país há pelo menos um ano – 69% – é formada por homens com idades entre 26 e 40 anos. A proporção no caso do gênero é de 59% de homens e 41% de mulheres e a maioria pertence à classe B.
Entre os países preferidos pelos brasileiros estão o Canadá, com 24%, seguido por Estados Unidos (23%), Portugal (15%), Argentina (10%) e México (9%). A grande maioria – 77% – está fora do país há mais de dois anos. O levantamento também revelou que apenas 5% não trabalha nem estuda. Isso significa que a maior parte está engajada em atividades profissionais diversas – além dos tradicionais setores de serviços, construção e comércio, há uma gama de outras áreas, como educação e finanças.
Os motivos que levaram à fuga do país também foram alvo da pesquisa. Cerca de 57% dos brasileiros partiram em busca de qualidade de vida, 55% de oportunidades de trabalho e 49% de estabilidade econômica. A pergunta, que permitia mais de uma resposta, também identificou entre as razões a segurança (42%), o conhecimento de novos lugares e culturas (33%) e o aprendizado de outro idioma (23%). Grande parte – 78% – não possui cidadania.
Já no que diz respeito aos aspectos financeiros – principal interesse da TransferWise para a execução da pesquisa –, 65% afirmaram ter feito um planejamento para conseguir concretizar a empreitada, 76% possuem conta em banco, 41% fizeram investimentos com renda de juros e 49% enviam dinheiro para o Brasil.
Já o público que pretende deixar o país nos próximos dois anos é formado majoritariamente por homens entre 35 e 50 anos, também da classe B. Neste caso, os Estados Unidos dominam a preferência (27%), à frente de Canadá (21%), Portugal (16%), Itália (6%) e Espanha (4%). As motivações são praticamente as mesmas daqueles que já vivem fora daqui e mais da metade revelou intenção de enviar dinheiro para o Brasil para ajudar parentes e amigos.
Heloísa Sirotá, responsável pela operação da TransferWise no Brasil, conta que o objetivo do levantamento era conhecer especificamente o comportamento financeiro desses brasileiros sem fronteiras. “O que detectamos é que as pessoas que já moram fora contam com as fintechs para fazer suas operações de transferência de dinheiro, enquanto aquelas cuja mudança está apenas nos planos pretendem usar seus bancos atuais para isso”, explica. Segundo a executiva, essa distorção revela o desconhecimento de grande parte da população da realidade dessas operações, afetadas pela variação de câmbio e spreads bancários. “As variáveis são muitas e impactam o volume transacionado”, diz ela, revelando que as transações em real já estão entre as cinco maiores da empresa.
Fonte: Forbes Daily