O presidente da República, Jair Bolsonaro, concedeu reajuste de até 73% em bonificação salarial dada aos militares das Forças Armadas que fazem cursos ao longo da carreira, o que custará R$ 26,54 bilhões aos cofres públicos em cinco anos. O valor equivale aproximadamente aos gastos em um ano com o Bolsa Família, programa de transferência de renda para a população pobre.
Chamado de “adicional de habilitação”, o bônus será incorporado na folha de pagamento de julho, com impacto de R$ 1,3 bilhão em 2020. A informação sobre a bonificação dos militares foi publicada pelo Estadão. O jornal citou como fontes uma nota técnica do Ministério da Economia e dados do Ministério da Defesa, obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).
Na prática, o gasto anual com o pagamento dessa bonificação no soldo dos militares crescerá ano a ano e em 2024 já estará em R$ 8,14 bilhões. O reajuste do adicional foi aprovado com a reforma da Previdência dos militares, no fim do ano passado. Enquanto trabalhadores assalariados foram prejudicados, a categoria, que é base de apoio de Bolsonaro, ganhou benefícios com a reforma.
O benefício escapou à suspensão do congelamento de reajustes salariais dos servidores civis deveria até dezembro de 2021, aprovado pelo Congresso com o socorro de R$ 120 bilhões aos Estados e municípios. A ideia do congelamento – uma contrapartida do setor público aos cortes salariais no setor privado – foi do ministro da Economia, Paulo Guedes. Quase 12 milhões de trabalhadores foram atingidos durante a pandemia com a tesourada nos salários e suspensão de contratos.
Os ministros militares do governo Jair Bolsonaro, porém, trataram de negociar com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a “blindagem” das Forças Armadas. Desde o início do governo, Bolsonaro tem protegido as carreiras militares.
O bônus será concedido no momento em que Bolsonaro enfrenta uma sucessão de crises e busca ampliar sua base de apoio, composta por militares, policiais, evangélicos, ruralistas e, agora, políticos do Centrão.
Ocorre também em um cenário em que o presidente da República alegou dificuldades do governo para prorrogar o auxílio emergencial de R$ 600 à população mais afetada pelos efeitos da pandemia da Covid-19. A área econômica anunciou na terça-feira (30) a extensão do benefício por dois meses, mas o repasse será feito em várias etapas.
No início das medidas de isolamento, Paulo Guedes chegou a sugerir um benefício de apenas R$ 200. Depois, quis reduzir as parcelas do auxílio emergencial para R$ 300.
Com informações do Estadão