A falta de testes em massa para detectar a infecção pelo novo coronavírus impede que tenhamos ideia de qual a extensão da epidemia no Brasil, afirma o médico sanitarista Claudio Maierovitch Pessanha Henriques.
“Toda essa oscilação no comando político atrapalha. O Ministério da Saúde está tomando suas medidas, mas dentro da sua caixinha. Não dá para combater epidemia dentro de uma caixinha. Isso diz respeito ao funcionamento do governo com um todo, da logística do país, tudo”, disse Maierovitch.
Maierovitch é coordenador e pesquisador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fiocruz em Brasília. Já foi secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, entre 2012 e 2016, e presidiu a Anvisa entre 2002 e 2008. Mestre em medicina preventiva e social, ele coordenou o combate à epidemia do vírus zika que eclodiu no país em 2015.
“Eu suporia que o número [de casos de infectados pelo coronavírus] é muito maior que 11 vezes [a quantidade de casos notificados]”, ele me disse, numa conversa ao telefone nesta terça-feira, 31. Se referia a um estudo que projeta 11 casos ignorados a cada paciente diagnosticado com covid-19. A estatística mais recente disponível informa 4.715 casos notificados.
Por causa da falta de testes, só casos muito graves são testados. “Quando existe uma oferta maior de testes [do que há no Brasil], é possível ter uma noção melhor, especialmente entre os que apresentam sintomas, de quem tem ou não o coronavírus. Isso permite entender melhor o caminho da doença e promover ações dirigidas a quem tem a doença confirmada”, Maierovitch explicou. Ontem, finalmente, chegaram ao país 500 mil testes – mas comprados pela mineradora Vale, e não pelo governo federal.
A falta dos testes não é o único problema, segundo o médico. “A ação de contenção [social da população] é toda baseada em decisões de governadores. E não sei se todos os governadores agiram. Falta um comando central dando orientação clara. Ao contrário, a mensagem na via política tem sido inversa”, lamentou.
“Aí vemos medidas que muito mais respondem ao interesse econômico que usa a epidemia como argumento do que a um planejamento de governo que procure identificar tudo o que é preciso. Continua valendo mais a força do poder econômico”, criticou Maierovitch.
Fonte: Rafael Martins