Escrevo esse texto em Lisboa, a capital de Portugal. Cheguei aqui dia 30 de novembro e o objetivo da minha viagem não foi comer bacalhau, tomar vinho ou passear pela Avenida Liberdade, apesar de eu ter feito um pouco de tudo isso. O objetivo da minha viagem a Portugal foi aprender.
Eu vim acompanhada de outros 11 brasileiros, profissionais da área da saúde e envelhecimento, com a missão de conhecer estratégias, políticas e serviços de saúde e assistência social focados na população idosa. Essa expedição foi organizada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia em parceria com a empresa internacional Dialog Health e foi denominada "A Reinvenção 60+ de Portugal". Portugal hoje é o segundo país mais envelhecido do mundo (só perde para o Japão) e 30% da população tem mais de 60 anos. Aqui existem mais pessoas idosas do que jovens. Um dos problemas que Portugal tenta resolver com suas políticas para o envelhecimento diz respeito ao cuidado dos idosos. Com poucos jovens na sociedade, cada vez mais há falta de pessoas para cuidarem dos mais velhos.
O que vemos hoje em Portugal veremos daqui há alguns anos no Brasil. Nosso país também está envelhecendo e este envelhecimento acontece de forma muito mais rápida do que aconteceu em Portugal. Nosso país tem uma população 23 vezes maior que a população portuguesa e nossos atuais 14% de idosos correspondem a 30 milhões de pessoas. Temos nas mãos um desafio de grandes proporções: preparar nosso país para esse envelhecimento.Temos muito a aprender com Portugal. Em Portugal existem diversas empresas de inovação e tecnologia. Aqui, por exemplo, visitamos empresas que desenvolveram a tecnologia da ligação telefônica automatizada (sem precisar dos cabos e telefonistas) e hoje desenvolvem tecnologia para a Telemedicina e a robótica. Os portugueses dizem que “estão a desbravar novamente os mares por meio da tecnologia”. Um ponto comum a todas as visitas técnicas que fizemos foi a palavra "parceria". Uma verdadeira sinfonia de “parcerias”. Aqui os chamados Consórcios são uma bela realidade! Visitamos dois consórcios que igualmente me encantaram: O Porto4aging (na cidade de Porto) e o Coimbra@aging (em Coimbra). Os dois consórcios envolvem um tripé composto pela universidade, pelo poder público (municipal) e pelas iniciativas privadas (empreendedores, prestadores de serviço particular e empresas de inovação e tecnologia). A lógica aqui é a da que “a união faz a força” e cada setor colabora no que lhe compete para o bem de todos e, principalmente, da população.
Outro ponto forte na viagem foi apreciarmos a capacidade de planejamento de Portugal. Eles planejam a década seguinte e muitas vezes atingem suas metas com anos de antecendência. Todas as decisões são baseadas nessas metas previamente definidas. Nada acontece ao acaso.
Foram 4 dias de visitas, muito conhecimento e troca de experiências. Aprendemos muito e, certamente, voltamos ao Brasil abastecidos de ideias e exemplos de boas práticas. Mas, como boa brasileira que sou, move-me mais o que me toca a emoção, e coisas muitos simples me tocaram. Uma imagem que levo foi a do trabalho de uma instituição do ramo social que faz assistência domiciliar. Eles não executam tarefas difíceis, na verdade eles oferecem o básico. Chegam à casa dos idosos por volta das 12h levando um almoço quentinho, depois arrumam sua cozinha, lhe dão um abraço apertado e seguem para a próxima residência. Simples assim. Volto com vontade de empilhar vários tijolos e construir altos muros. Por onde começar? Precisamos do primeiro tijolo e esse deve ter como objetivo responder às necessidades humanas básicas, deve ser colocado em um terreno propício, e a energia desse trabalho deve ser a vontade genuína de promover mudanças para o bem comum.
Foram 4 dias de visitas, muito conhecimento e troca de experiências. Aprendemos muito e, certamente, voltamos ao Brasil abastecidos de ideias e exemplos de boas práticas. Mas, como boa brasileira que sou, move-me mais o que me toca a emoção, e coisas muitos simples me tocaram. Uma imagem que levo foi a do trabalho de uma instituição do ramo social que faz assistência domiciliar. Eles não executam tarefas difíceis, na verdade eles oferecem o básico. Chegam à casa dos idosos por volta das 12h levando um almoço quentinho, depois arrumam sua cozinha, lhe dão um abraço apertado e seguem para a próxima residência. Simples assim. Volto com vontade de empilhar vários tijolos e construir altos muros. Por onde começar? Precisamos do primeiro tijolo e esse deve ter como objetivo responder às necessidades humanas básicas, deve ser colocado em um terreno propício, e a energia desse trabalho deve ser a vontade genuína de promover mudanças para o bem comum.
Fonte: Juliana Duarte (Geriatra, especialista em cuidados paliativos)